Objetivo do estudo
Em um cenário de recursos limitados, a tomada de decisão sobre projetos, produtos e ações pelas empresas passa a ser de interesse imediato na alocação de investimentos e conquista de vantagens competitivas pelas organizações. Para compreender a complexa relação entre diferentes componentes, modelos têm sido apresentados como estruturas racionais e baseados em evidências para apoiar as empresas na gestão de portfólio. Na maioria quantitativos, matemáticos e muito sofisticados, esses modelos comumente negligenciam dimensões humanas e sociais sobre a tomada de decisão na gestão de portfólio. Kester et al. (2011) apresentam um modelo de tomada de decisão para gerenciamento de portfólio que une fatores culturais, fatores de mapeamento e input de informações, processos e efetividade da tomada de decisão, propondo um sistema integrado de processos inter-relacionados, o que influenciou trabalhos teóricos posteriores. De acordo com os autores, os processos eficazes de tomada de decisões em portfólio produzem uma mentalidade de portfólio, concentram esforços e permitem a ágil tomada de decisão em todo o conjunto de projetos. No presente artigo, tem-se a compreensão de que existe um vácuo de entendimento sobre como os aspectos da cultura organizacional, especificamente a Liderança Transformacional, podem afetar os processos de tomada de decisão na gestão de portfólio. O seu objetivo é ampliar a análise da dimensão cultural trazida por Kester et al. (2011), especialmente quanto ao fator Liderança Transformacional, dando luz às contribuições geradas pelo modelo nas práticas empresariais de tomada de decisão em gestão de portfólio dada à sua relevância e ineditismo conceitual.
Relevância/originalidade
A relevância e o crescimento dos temas Liderança Transformacional, gerenciamento de projetos e gestão de portfólio fazem com que, 8 anos após a publicação do artigo de Kester et al. (2011), esses temas tenham sido alvo de diferentes estudos, de naturezas distintas e que podem ter oportunizado a aplicação dos constructos trazidos pelo modelo apresentado pelos autores. Sendo um modelo original, que explica não quantitativamente os processos de gestão de portfólio, é de interesse aqui rediscutir e analisar comparativamente publicações mais recentes ao proposto pelos autores em 2011. De fato, 163 citações foram encontradas do artigo de Kester et al. (2011) desde sua publicação, sendo que é possível afirmar que o modelo ali apresentado possa ter influenciado trabalhos teóricos posteriores e que, como princípio, houve avanços na associação especificamente entre os constructos cultura, Liderança Transformacional e gestão de portfólio.
Metodologia/abordagem
O presente artigo optou pelo método de revisão sistemática adaptada como meio para levantamento e análise de artigos que citaram Kester et al. (2011) desde a sua publicação. No próprio artigo, os autores sugerem pesquisas empíricas que investiguem a validade prática do modelo para outras organizações, compreendendo assim as vantagens dessa evolução do modelo por meio de novos estudos e incentivando a sua implantação e análise em ambientes organizacionais. O presente artigo ganha respaldo ao investigar quais movimentos na literatura já foram executados a partir das contribuições de Kester et al. (2011).
Principais resultados
Os achados da presente pesquisa mostraram que houve pouco avanço nos estudos empíricos a partir do modelo de Kester et al. (2011), sendo que apenas dois artigos encontrados pela revisão sistemática relacionaram o constructo liderança transformacional e os processos de geração de dados para tomada de decisão. Desses, apenas um apresentou os princípios gerais de liderança transformacional de Kester et al. (2011) em seu referencial teórico, executou um estudo a partir dos constructos do modelo e chegou a assim a resultados. As descobertas mostram que existem ainda amplas oportunidades para a investigação da validade do modelo nas organizações.
Contribuições teóricas/metodológicas
O presente artigo vem somar esforços na identificação da aplicação e análise do modelo trazido por Kester et al. (2011) nas organizações. Sendo um modelo teórico e inovador em seu campo de estudo, entende-se que pesquisas que associassem constructos similares e/ou que partissem do modelo para explicar as tomadas de decisão em gestão de portfólio nas empresas pudessem dar continuidade às proposições trazidas pelos autores. Dessa forma, como contribuição teórica, o artigo se dedicou à identificação de pesquisas que fornecessem respaldo prático ao modelo, mesmo com resultados limitados. Por outro lado, as contribuições metodológicas se restringem à aplicação rigorosa de uma revisão sistemática da literatura a fim de identificar as eventuais evoluções dos temas e constructos envolvidos.
Contribuições sociais/para a gestão
Os resultados da pesquisa mostram que houve discreta construção empírica na literatura a partir do modelo trazido por Kester et al. (2011) quanto aos relacionamentos entre o constructo liderança transformacional e os geradores de informações para tomada de decisão em gerenciamento de portfólio. Poucos artigos selecionados ao final merecem real destaque por aplicarem os constructos originais dos autores em suas pesquisas ou, ao menos, trazerem elementos similares aos relacionamentos estabelecidos pelo modelo original. Pode-se supor, assim, que há grande oportunidade para continuidade da exploração do modelo de Kester et al. (2011) empiricamente, especialmente nas áreas de recursos humanos, com possibilidade de assimilação do constructo liderança transformacional em um tema que vai além do cenário usual dos estudos sobre liderança.