Objetivo do estudo
O objetivo deste Relato Técnico é apresentar o Termo de Abertura do projeto de elaboração dos Planos de Recursos Hídricos de Bacias Hidrográficas do Espírito Santo (Planos de Bacias), além de descrever brevemente como foi realizada a elaboração do termo e a captação de recurso financeiro, seleção da equipe técnica, capacitação da equipe e das parcerias institucionais, bem como, as expectativas dos patrocinadores e os fatores de sucesso e principais entregas.
Relevância/originalidade
De caráter inovador, em termos conceituais e metodológicos, o projeto adotou a estratégia de reuniões periódicas para que as instituições envolvidas e os pesquisadores contratados aprendessem ao máximo com a experiência de pensar a gestão de recursos hídricos de forma participativa e com maior eficiência para a população a ser atendida (Gonçalves et al., 2010).A experiência tem mostrado que as consultorias demandam muito tempo na elaboração dos trabalhos e apresentam custos elevados. Em estimativa feita pela Agerh, os gastos de se contratar uma consultoria para trabalho semelhante ao projeto Planos de Bacias estariam próximos aos 15 milhões de reais. Com a parceria e contratação de pesquisadores, o projeto ficou 85% mais barato, quando comparado à contratação de serviço de consultoria, e também capacitou profissionais de diversas áreas e reforçou o caráter multidisciplinar da gestão de recursos hídricos, além de produzir resultados mais condizentes com as realidades locais devido à participação efetiva dos Comitês de Bacias Hidrográficas e atores e consumidores das bacias nas oficinas de trabalho realizadas.
Metodologia/abordagem
A metodologia a ser abordada por esse relato técnico levou em consideração, conforme Biancolino, Kniess, Maccari, & Rabechini Jr (2012), a contextualização, a intervenção, os mecanismos adotados e os resultados obtidos no projeto, com a finalidade de apresentar uma alternativa possível para o âmbito técnico em planejamento de recursos hídricos. Contudo, não trata-se de uma análise em sua total unicidade, mas, conforme Pádua (2019), foi realizado uma abordagem com o intuito de abranger as características mais relevantes do projeto, bem como seu processo de desenvolvimento, e, para isso, foi realizado levantamento, sistematização e análise de informações com o objetivo de consolidar uma conclusão a respeito do relato realizado (Yin, 2015).
Principais resultados
Diferente de outros planos executados no Espírito Santo e outros estados, que utilizaram prestação de serviços de consultoria, na maioria dos casos, contando com poucos especialistas, a Agerh buscou parcerias entre órgãos estaduais, Comitês de Bacias Hidrográficas (CBHs) e atores envolvidos na gestão da água para desenvolver o projeto sem a contratação de uma empresa. O projeto é considerado, entre especialistas em planejamento e gestão de recursos hídricos, um trabalho intenso, motivador, inovador, democrático e participativo sem precedentes na gestão dos recursos hídricos brasileiros, sendo desenvolvido por meio de uma parceria entre a Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh), o Instituto Jones Santos Neves (IJSN), a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes) e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Seama).
Contribuições teóricas/metodológicas
Na análise econômica foi constatado significativa economia dos custos quando comparado a projetos já executados que utilizaram contratação de consultoria. Em relação à análise do produto técnico, o projeto executado pela Agerh apresenta diversas vantagens, devido a escolha de uma metodologia participativa, com uma equipe técnica multidisciplinar e a aproximação com os Comitês de Bacias Hidrográficas e os demais atores da gestão de recursos hídricos, refletindo em um produto mais condizente com as necessidade e as ações a serem planejadas e executadas para a melhoria das condições de disponibilidade de água no território das bacias hidrográficas
Contribuições sociais/para a gestão
Durante todo o projeto, uma equipe de Comunicação e Mobilização Social manteve uma página e um perfil ativos em rede social, com o objetivo de aproximar a população e de divulgar informações relevantes e pertinentes ao tema de recursos hídricos e ao próprio andamento da pesquisa, além de fazer contato telefônico e por e-mail para convidar atores para as oficinas. Em cada oficina, o poder de decisão estava nas mãos dos membros do comitê e demais participantes, mostrando o caráter participativo do processo de construção dos instrumentos de Enquadramento e Plano de Recursos Hídricos e a valorização do saber de quem mora na bacia (O'brien, 2001).